Criatura,
Olha em código para o que não decifras.
Galgas ondas e não percebes cada passada que dás nessa estrada.
Diante de tantas belezas te perguntas: por que estacionei, se seguimos em frente em uma estrada pontilhada sem placas indicando o verdadeiro caminho? Como morar em ti mesmo é difícil, porque há milhares habitando tuas lembranças, por que perdes tempo calçando sapatos que não cabem em teus pés?
Vês que o Sol sorri também nesse tempo, onde perdes a bússola. Teus olhos são lanternas frágeis indicando aos pés passadas trêmulas.
Então por um segundo, consegues reconhecer alguém em teu interior. Alguém que transborda em lágrimas sentado num cantinho de ti, que esquecestes de usar.
Lá as lágrimas banham uma face tranquila e risonha, e te ensina que já estavas em ti. Havia guarida enfim para o vazio.
Tempo, podes chama-lo outra vez de eterno, e saís em polinização no mais raro som de todas as melodias.
A paisagem predominante de um “milagre”. Vestes encontros de antigos sentimentos cobertos por camadas vezes muito duras, vezes acessíveis, como se fora um grande herói que decidiu se conhecer de verdade.
Lá onde as máscaras não são uníssonas, Criatura e Criador se contemplam com olhares únicos, sublimes sobre o galope das nuvens, como Pegasus de asas gregorianas.
Desculpe se puder, meu interior, por todas as jornadas que não te encontrei, por todos os espinhos com que te feri a entranha sequiosa, sem o cálice, ápice bendito. Por emudecer com o barulho nas curvas de uma estrada, se apenas seguia, e por não ter aprendido a ler todas as placas.
Quando as palavras simplesmente se fizeram conhecidas, o sentimento estava maior, e em tudo te senti na minúcia da delicadeza que tem uma flor.
Isis Carvalho