A face do amor
Ansel Adms disse uma vez: você não faz uma fotografia apenas com uma câmera. Você traz para o ato da fotografia todos os livros que leu, os filmes que assistiu, a música que ouviu, as pessoas que amou, lugares que você visitou. Aromas, sons e formas do passado.
Eu fotografo almas, tudo que meus olhos fixam é difícil escrever o quão grande é cada imagem, porque elas, cada uma delas, têm o seu adequado sentido. Nas manhãs, meus olhos buscam a essência onde a fala do Criador me chega delicada no toque da brisa, no canto dos pássaros, na dança faceira das árvores, tudo se parece único, inteiro, belo, tudo se junta como o amor nos dias, nas noites, no próximo.
Momentos, em que a gratidão tão-somente se enleva até o majestoso num elo onde as palavras já não precisam ser ditas.
A entrega se faz na prece onde pausadamente o caminho é azul feito um oceano, e as nuvens tais quais auroras boreais. Apenas um facho de luz entre as nuvens revelam que a fotografia mais bela jamais seria tão fenomenal. Tudo formando um mosaico dentro desse coração que passa a fotografar rostos queridos, sonhos, poesias, melodias orquestradas em tons bemóis.
Há todas as manhãs novos temas, novos pergaminhos a fotografar e guardar, porque a estrada é cheia de talvez, de quedas e vacilos. Enquanto os olhos param na luz que irradia mundos paralelos, e a ampulheta derrama de leste a oeste o sopro do anjo hálito de tristeza. E quando sem compreender escuto, apenas fotografo o livro dos dias.
A face de Cristo surge triste com uma coroa de espinho. E ela, a mãe de todos os filhos, a intercessora, caminha com leveza em branco Céu sobre uma terra craquelada.
Onde está o amor?
Dentro das tuas criaturas.
Os olhos se fecharam, o orgulho ganhou adeptos, a vaidade caminha à solta sem se importar pelo dia ou pela noite.
Então novamente ela, a mãe, lançou fraternal laço de amor, tateou o globo entre as mãos, pequena ampulheta. E detrás de si tudo se fez grande, e então dentro do meu pensamento compreendi as tentativas. Cada um que tenta germinar a semente do bem sem hesitar não cairá. Os pássaros de todas as espécies voejavam baixo perto de suas mãos, mas um deles que não conseguia identificar era o mais persistente, e por fim depois das tentativas ele consegue soerguer-se veloz.
Então perguntei, que pássaro era aquele? Então o globo nas mãos da intercessora girava mais veloz e seus cabelos longos dançavam sobre o universo ao sopro da brisa. E num sorriso calmo e doce, estendeu a mão ao alto, e da imagem de Cristo pousava o antídoto dentro de sua mão apaziguadora.
Vi ali todas as falas de afeição num só pingo de água, era fácil compreender porque todos precisamos espalhar amor uns aos outros.
Fotografar a essência é preciso, mas sem julgamentos, sem mágoas, sem pedras, todos precisamos uns dos outros, precisamos de toda a criação de Deus, porque cada um está andando sobre as águas e é onde a confiança no Criador deve ser sem receios.
Um dia é o que precisamos para viver bem vivido, como disse o mestre, o dia de amanhã pertence ao Pai. O momento é de fotografar almas e acolhe-las, abra os braços ou voe como desejar. Com uma palavra de carinho, e se pondo no lugar do outro, sendo o próximo.
Acredite, cada passo dado no bem é uma estrada de luz que se acende em meio à cura, pois o bem leva ao amor maior, há uma eternidade de vitórias em cada um de nós.
Não ache estranho a maneira que alcanço desnudar as expressões para encaixar a grandiosidade do sentimento, mas para mim como já nasci estranha foi a conexão mais bela que com gratidão escrevi esse conjunto confuso de palavras.
Isis Carvalho